http://www.stack.com/a/beat-the-slumps

A actividade do treinador engloba uma variedade de competências necessárias para a evolução em várias dimensões, sendo a mais óbvia a sua própria. É consensual que os conhecimentos que o treinador deve reunir deverão ser amplos e profundos, quer nos aspectos técnicos, táctico-estratégicos e físicos, se este almejar atingir um patamar de desempenho dentro do alto rendimento. Mesmo nos desempenhos inferiores, seja na formação, com a sua grande variedade de aspectos que caracterizam a aprendizagem, o desenvolvimento motor, e psicológico, seja em desporto sénior amador, o treinador deve transportar consigo habilidades que lhe permitam no mínimo ter uma actividade exigente em todas as vertentes, para que não sinta que o seu tempo está a ser perdido.

Hoje em dia é também consensual para os treinadores que a formação é importante e necessária. Não há dúvida que os conhecimentos multi-dimensionais são um elemento chave para alcançar o êxito desportivo com a sua equipa e com o seu clube. No entanto cada vez mais treinadores expõem como problemas muito usuais aqueles de índole comportamental, relacional e psicológico. Sendo a atitude de uma pessoa, ao contrário do que muita gente pensa e usa na sua comunicação, a predisposição para um comportamento, considero que esta está directamente ligada ao seu carácter ou personalidade. Coexistindo numa equipa 15, 20 ou 30 pessoas, todas com carácter diferente, experiências e circunstâncias de vida diferentes, julgo ser urgente que os treinadores pensem bastante seriamente em incluir na sua formação desportiva experiências nestes domínios das ciências sociais. Antes de existir o atleta existe a pessoa. Com os seus dramas, os seus sonhos, os seus êxitos, os seus fracassos, as suas verdades e as suas mentiras. Cabe ao treinador ter um papel essencial na dinamização colectiva dos relacionamentos dos atletas e a sua capacidade de liderança ditará a sua quota de sucesso neste campo.

Se questionarmos os treinadores “Qual é a maior dificuldade no momento de treinar?”, surgem respostas como por exemplo:

  • Questões sociais, falta de reconhecimento familiar da actividade desportiva
  • Conseguir manter a motivação em todos os jogos
  • Ao treinar equipas amadoras há falta de compromisso de alguns jogadores
  • A falta de capacidade de trabalho dos jogadores
  • A falta de responsabilidade
  • A dificuldade em conseguir um bom ambiente de trabalho e solucionar os problemas do grupo
  • Em momentos de exames ou exigências laborais diminui a presença nos treinos
  • Apesar de lutarem não têm confiança nas suas possibilidades futuras
  • Problemas na transmissão de alguns conceitos técnicos ou tácticos
  • Falta de formação anterior de qualidade
  • Falta de resiliência

 

O que ressalta aqui em todas estas respostas é que tocam aspectos psicológicos e sociais (liderança, inteligência emocional, comunicação, gestão de conflitos, etc.), e em formação nessas matérias os treinadores simplesmente não investem (nem tempo, nem dinheiro). E não investem porquê? Eu julgo que tenho algo parecido com uma resposta.

Na abordagem do treinador desportivo à sua própria formação o treinador analisa e toma consciência do que precisa saber para sentir a capacidade de colocar a sua equipa a jogar. Nesta fase o treinador escolhe as suas prioridades e toma as suas decisões, alinhadas com os seus objectivos. Uma boa parte deste processo é subconsciente (que é um nível de consciência da mente responsável pelo arquivo das nossas crenças e valores) mas se o treinador nem sequer tem objectivos delineados, quer individuais, quer colectivos, atrevo-me a dizer que o próprio nem sequer consegue enumerar alguns motivos pelos quais quis abraçar esta actividade.

O rol de competências necessárias para o treinador exercer a sua actividade é grande e após investigação e reflexão a minha teoria é esta, aqui esquematizada numa pirâmide, utilizando o modelo da pirâmide da hierarquia das necessidades de Maslow e estudando alguns elos em comum.

Tal como Maslow teorizou, em que em que as necessidades de nível mais baixo serão satisfeitas antes das necessidades de nível mais alto, a ideia aqui é a mesma. Podendo a teoria estar incompleta pois ainda não foi testada no terreno através de inquéritos e modelada estatisticamente, é usada aqui para transmitir a ideia e colocar mais gente a reflectir sobre ela.

Assim, é natural que os treinadores tenham necessidade de primeiramente aprender tudo relacionado com a parte técnica e capacidades motoras características da modalidade para depois se irem alimentando e experimentando modelos tácticos e estratégicos. Nesta fase é natural também que os treinadores ainda não sintam necessidade para ir mais além na aquisição de outros conhecimentos de nível superior (psicologia, ciências sociais e liderança), e se mantenham neste nível por bastante tempo. O problema é este: a estagnação… Acaba por ser um falso problema para quem tem como objectivo ser um treinador incompleto ou mediano.

Fonte: http://www.active.com/Assets/active-family/620/1.15.15+Advantage+Updates/coach.jpg

 

Na actualidade, a grande importância dos aspectos psicológicos e de relação grupal (comunicação, confiança, liderança, motivação, entre outros) está consciente em muitos treinadores, que consideram a formação um elemento chave para o desenvolvimento de um colectivo, quer seja profissional, quer seja amador. Também o desenvolvimento orientado para o individual (treinador/jogador) deve ser alvo de investimento constante em formação. Não obstante o investimento não significa gasto financeiro pois existe uma data de formações gratuitas.

Um elemento fundamental para a evolução do desporto em si é o conhecimento actualizado e detalhado do desempenho individual e colectivo. A partilha de ideias e a abertura a conteúdos é a melhor forma de as fazer crescer, assim como uma verdadeira intenção e investimento na formação. Só assim elevamos os nossos valores.

A formação específica dos treinadores, em particular em conteúdos de natureza psicológica ou comportamental deve ser desenhada e implementada a partir de informação válida e fiável. Ser melhor treinador é um direito e uma responsabilidade de todos.

“A partilha é o acto mais valioso para quem quer crescer muito para além do que é esperado por aqueles que só querem ser normais!”Alcino Rodrigues

 

Bibliografia

Jesus Candelas – https://jesuscandelas.wordpress.com/

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