Julian Nagelsmann foi contratado pelo Hoffenheim para assumir o comando da equipa da 1ª Liga Alemã, treinador que no passado foi campeão nacional de juniores do mesmo clube. Julian é o treinador mais jovem da história do escalão mais alto do futebol alemão. Julian tinha acordo para orientar a equipa mas ainda teve de passar nos testes do curso de treinador. O seu talento para treinar foi detectado pela direcção do Hoffenheim que não hesitaram em segurá-lo em funções no clube e deram-lhe um grande voto de confiança e esperança.
“Para chegares aonde a maioria não chega precisas fazer algo que a maioria não faz…”
A história de Julian serve de mote para o resto. Uma frase que cito reflecte a diferenciação que se observa quando encontramos exemplos destes. Jovens “improváveis” a ter sucesso, a ultrapassar “velhas raposas” e a mudar velhos paradigmas… Na nossa sociedade ocidental floresce o estigma de que só quem tem muitos anos de idade é que tem muita experiência. Se levarmos a afirmação de forma literal a verdade é essa mas há aqui mais factores a ter em consideração. Será que ao longo dos anos as experiências e aprendizagens adquiridas foram de qualidade? As competências adquiridas num curto espaço de tempo não são passíveis de transformar um treinador jovem num treinador de qualidade? Nem sempre a quantidade de anos de prática da actividade entrega ao treinador valores e habilidades que o faz ser bem-sucedido ou reconhecido pelos outros. Diz-se que “a prática leva à perfeição”. Se de certa forma isso é verdade, quando a prática não é “perfeita” não leva a lado nenhum a não ser a uma ilusão traduzida pelo ditado popular “a velhice é um posto”. Não concebo que alguém sensato, que tenha, por exemplo, mais 10 anos de experiência que outro treinador, sequer pense que é mais competente logo a priori. “A velhice é um posto” no sentido de prever uma atitude de respeito, não tem a ver a competência.
Cada vez mais surgem novos treinadores, impulsionados e motivados por novas ideias, com sede de conhecimento e bastante personalidade, bastante proactivos, à espera de uma oportunidade idêntica à de Julien Nagelsmann. Do outro lado, a escolha para técnicos da “velha guarda” está entre tornar-se flexível e adaptar-se ou passar à reforma. Jupp Heynckes, por exemplo, tem 68 anos, e é natural que os relacionamentos com os jogadores mais jovens possam ser frágeis. No entanto o treinador reinventou-se a si próprio no Bayern de Munique, com uma abordagem mais serena e uma liderança mais adequada.
Supostamente, à medida que vamos passando os anos de vida, numa profissão, numa actividade, uma enorme quantidade de experiências, aliadas à aquisição de conhecimento teórico e prático, vão-nos moldando e dando consistência no desempenho do nosso papel. Neste caso, o de treinador. Obviamente estas acções de construção do nosso ser treinador vão dando pistas que nos permitem avaliar em que ponto nos encontramos, partindo do princípio que o nosso grau de autoconhecimento é bom e que somos possuidores de uma boa atitude perante o nosso papel.
Não quero parecer arrogante nem presunçoso dizendo que, na minha opinião, um treinador de 20 anos nunca deve ser subserviente a outro qualquer de 40, mesmo tendo o primeiro somente um ano de experiência na liderança de equipa. O que defendo é que deve ter humildade, atitude e confiança. Deve sim ser respeitador mas convicto dos seus princípios, lutar para demonstrar que as suas ideias diferentes são boas e funcionam. Manter-se firme perante actos desesperados de demonstração de poder ou tentativa de imposição de ideias. Ideias velhas já foram novas e as melhores na altura. Felizmente o ser humano é naturalmente empreendedor e aprendedor, e utiliza essas características para crescer. Se acreditamos que por toda a gente jogar e treinar o 4x3x3, 4x4x2, 4×0, 2x2x1, 6×0, nós também o temos de o fazer, já estamos a ser manipulados à partida. Se achamos que é melhor que seja diferente, então sejamos persistentes e resistentes porque muita gente vai, em vez de provar que eles estão certos, tentar provar que nós estamos errados.
Um factor importante também no sucesso de jovens treinadores é a aposta dos dirigentes com coragem para assumir um risco que muitas vezes é impossível de calcular. A competência não tem idade e está na hora de modificarmos a nossa típica mentalidade de que somos pequeninos e que raramente temos mérito, ou que este não é um factor de diferenciação. “Chegamos sempre como novos a todas as idades da vida e muitas vezes com falta de experiência, apesar do número de anos” já dizia François La Rochefoucauld, escritor francês do século XVII.
Para os treinadores com mais idade deixo uma pequena sugestão: como os que lideram qualquer sistema são os mais flexíveis, então sejam-no. Aceitem novas ideias, brinquem com elas, tentem perceber primeiro e não as descartar à partida. Poderão estar perante algo valioso mas que por condicionamento não aceitam.
“Os velhos acreditam em tudo, as pessoas de meia idade suspeitam de tudo, os jovens sabem tudo.” Oscar Wilde
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